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Projeto Theia
31 Out 2023
Projeto Theia do consórcio Bosch-Universidade do Porto © Bosch

Bosch: "Faz todo o sentido a convergência da Inteligência Artificial e da Internet das Coisas"

Indústria 4.0, medicina, mobilidade, cidades inteligentes e casa inteligente são algumas das áreas com mais oportunidades ligadas à AIoT, diz Nelson Ferreira, responsável pela área da Indústria 4.0 na Bosch.

 

A fabricante alemã tem em Portugal um importante núcleo de desenvolvimento de soluções viradas para sectores como o automóvel e indústria 4.0. São áreas em que a aplicação de Inteligência Artificial tem tremendo potencial, sobretudo em convergência com tecnologias da Internet das Coisas. É isso que diz ao Dinheiro Vivo Nelson Ferreira, responsável pela área da Indústria 4.0 na Bosch.

"A sensorização avançada do mundo real permitirá abrir novas fronteiras - novos tipos de sensores - e ter acesso a um conjunto alargado e em tempo real de novos dados", explica o responsável. "Com esta ainda maior abundância de dados, faz todo o sentido a convergência da Inteligência Artificial e da Internet das Coisas", estabelece. "IoT recolhendo informação relevante e criando um "modelo digital" e IA processando esses dados em tempo real e criando novos "insights" relevantes."

Esta convergência, que tem sido chamada de Inteligência Artificial das Coisas, AIoT, foi o tema da recente Vodafone Business Conference em Lisboa.

Nelson Ferreira explica que o conceito está a ser explorado "e oferece inúmeras oportunidades" em áreas como indústria 4.0, medicina, mobilidade, cidades inteligentes ou casa inteligente. Ao mesmo tempo, lança desafios de ética, legalidade, confidencialidade dos dados e outros.

Na Bosch em Portugal, uma das principais áreas de investigação é a automóvel. Segundo explica Stefan Weissert, responsável de Inovação na Bosch Braga, a AIoT tem a capacidade de acelerar o desenvolvimento de sistemas autónomos.

"Permite veículos definidos por software, uma criação de valor mais rápida através da adaptação ao comportamento e necessidades do cliente e tudo em ciclos de desenvolvimento muito mais curtos", indica.

Weissert considera que a maioria das funções viradas para o cliente vão beneficiar de veículos definidos por software. "A maior mudança de jogo será a condução autónoma", refere.

É esse o propósito da Bosch. "Continuamos a ter um grande foco no desenvolvimento de ADAS [sistemas avançados de assistência ao condutor] em Portugal, beneficiando de veículos definidos por software e desenvolvendo soluções AIoT orientadas por dados." Um exemplo recente foi o projeto THEIA - Perceção para a condução autónoma, recentemente concluído em parceria com a e Universidade do Porto. Demorou três anos, representou um investimento de 28 milhões de euros e focou-se no desenvolvimento de algoritmos avançados para que os veículos percebam com exatidão tudo o que os rodeia.

A Bosch está também a trabalhar em aplicações da chamada "Economia das Coisas", tais como o estacionamento e pagamentos automáticos, em que os veículos procedem a transações comerciais de forma autónoma.

 

As maiores oportunidades na indústria 4.0
Nelson Ferreira identifica 7 oportunidades geradas pela AIoT focadas na indústria.

A primeira é a extração de "insights" a partir das enormes quantidades de dados geradas pelos sensores e dispositivos IoT, o que ajuda a tomar melhores decisões. É "basicamente o advento da organização hiperconectada", considera.

A segunda é a manutenção preditiva, dado que a IA pode prever quando é que máquinas conectadas poderão falhar e intervir antes disso. A Bosch Termotecnologia aplica isso aos seus equipamentos, reduzindo o tempo de inatividade e os custos de manutenção. A sensorização também permite ter novos modelos de negócio, como máquinas-como-serviço.

Outra oportunidade está na automatização de funções. Em fábricas inteligentes, a IA pode ligar ou desligar equipamentos, ajustar a climatização ou a iluminação com base na ocupação e nas preferências pré-parametrizadas. Foi o que fizeram a Bosch Termotecnologia e a Universidade de Aveiro, desenvolvendo um assistente energético com capacidade de prever consumos e sugerir ações de otimização no projeto Augmanity.

A personalização é outra oportunidade. Na indústria, um utilizador pode pedir algo às aplicações com base em linguagem natural, como identificar processos gargalo em avanço; um técnico de manutenção poderá pedir a um modelo IA qual o diagnóstico para reparar uma máquina avariada e por aí fora.

Há também espaço para mais cuidados de saúde preventiva junto dos trabalhadores industriais, que permitirão corrigir posturas incorretas e minimizar o cansaço.

Por outro lado, os sensores IoT acionados por IA fornecem dados de processo industrial em tempo real, o que auxilia na monitorização ambiental e de contexto. E contribuem ainda para a otimização da cadeia de valor, analisando dados que levam à redução de custos de aprovisionamento e desperdícios e antecipando situações críticas.

 

E os desafios?
Os benefícios não invalidam os desafios, que Nelson Ferreira considera ser importante endereçar. O responsável cita as questões da segurança de dados, a preocupação com a privacidade, a escalabilidade e interoperabilidade, a complexidade da integração, o consumo energético dos sensores IoT e as considerações éticas e legais.

"A convergência da IA e da IoT tem o potencial de transformar as indústrias, assim como as nossas vidas, mas para obter todos os benefícios, importa mitigar riscos e enfrentar os desafios associados", frisa o especialista. "Isto requer uma abordagem multidisciplinar envolvendo tecnologia, segurança, ética e regulamentação."

Para ele, vencerão os países e organizações "que souberem tirar partido das vantagens que esta convergência tecnológica está a criar."

 

Fonte: dinheiro vivo